quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O Brasil do início do séc. XIX ao Brasil do séc. XXI

"O Brasil no início do século XIX, ao cabo de três séculos de colonização, era um país de contrastes, de situações extremas: litoral e sertão, riqueza e pobreza, cultura popular sincrética e ortodoxia filosófica e religiosa, licenciosidade de costumes e rigidez de comportamento, valores cristão e escravidão, mandonismo rural e massa servil, economia exportadora e produção de autoconsumo. Faltava de todo - ou havia leves indícios - o equilíbrio de elementos intermediários, que permitissem o desenvolvimento de novas formas sociais: mercado interno, classe média, fontes diversificadas de poder, pluralidade cultural e religiosa. Ao contrário, prevalçecia a contradição de um país dividido em múltiplas dicotomias."
Wehling, Arno. A Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: ed. Nova Fronteira, 1994. (pg.339)
Este quadro político-social instalado no Brasil do início do séc. XIX,( o que significa 1800 - 1830) em muito se asssemelha com o Brasil do início do século XXI (2000 - 2008). Pasmen! Duzentos anos após, e notamos que a essência das dicotomias existentes naquela época, os contrastes socias, ainda estão presentes em nosso cotidiano. Com excessão ao quadro econômico e a pluralidade política, as diferenças sociais ainda encontram-se presentes. A riqueza e a pobreza, o litoral e o sertão, a elite intelectual e a massa servil. Enfim o Brasil não conseguiu êxito no desenvolvimento sócio cultural de seu povo. Pouco conseguimos mudar. Se levarmos em consideração as novas tecnologias e suas influências na formação cultural do povo e de forma comparativa traçar um paralelo com aquela época, podemos até nos atrever a afirmar que nada mudou. O intelectual Luís dos Santos Vilhena, citado na ,mesma obra, chegou a declarar: "O BRASIL É UMA CONGREGAÇÃO DE POBRES."
Como seta certeira, atinge-nos na dignidade as palavras do escritor. Como não concordar com palavras que exprimiam a realidade brasileira da época, se tão atuais!
Estudar a formação de nossa identidade, é antes de tudo identificar a nossa origem, o que éramos e o que passamos a ser. Se não encontrarmos grandes mudanças, é por que está na hora de assumir a nossa responsabilidade e mudar então a nossa realidade. Se o Estado foi incompetente na sua missão, cabe ao povo tomar as rédeas da mudança, exigindo para si esta responsabilidade. Afinal, o poder emana do povo, e por ele será exercido ..., ou não?

2 comentários:

Aldeia Griot disse...

Palavras bonitas jovem Roque, contudo acredito que faltou um componente nesta tua reflexão... a questão racial. É não digo somente na perspectiva histórica de longo prazo, pois, é perceptível (para quem consegue e quer ver) que a nossa elite ao longo do século XX embranqueceu enormemente.
Tudo bem equívocos acontecem. Se pegarmos alguns dos autores clássicos que discutem a formação do povo brasileiro veremos coisa semelhante. Para dar dois exemplos é só ver calmamente o livro "Sobrados e Mucambos", do Gilberto Freire. Na referida obra, mais especificamente no cap.XI, ele comenta sobre a vida de alguns intelectuais da vida pública e política do final do século XIX. Chama-os de mulatos que estava se integrando na sociedade brasileira, até mesmo apelidou eles de "Bacharéis". Contudo a perspectiva dele era a miscigenação como um horizonte inescapável.
Não podemos esquecer de Florestan Fernandes que acreditava piamente na integração do negro na sociedade de classe. Segundo ele os problemas que atingiam a população negra brasileira era um resquício do período (longuíssimo, não é mesmo) escravista. Era só esperar que os negros seriam integrados.
Nossa... os dois como "filhos de seu tempo" estavam certos em diversas coisas e muito equivocados em outras. Quanto à inserção (Florestan) e a miscigenação (Freyre) erraram feio... o que aconteceu foi o branqueamento excessivo e conseqüentemente aumento do racismo no Brasil.
Seria interessante (intelectuamente falando) tentar pensar está questão nas suas próximas reflexões.
Outra coisa obrigada pela postagem no blog e por ter me apelidado de jovem griot. Fiquei me sentindo mais jovem e quis retribuir a gentileza no começo do meu comentário.
Felicidades e vamos continuar conversando e desculpe os erros, pois escrevi correndo.
email para contato: aldeiagriot@yahoo.com.br

Filho de Oxalá disse...

Podemos acompanhar as diversas correntes historiográficas e dependendo de nossos interesses defender a que mais nos serve.
O fato então, deve-se ao ponto de vista. A sociedade brasileira embranqueceu a quem interessa embranquecê-la. Outras correntes acreditam no escurecimento da cor da pele. Quem está com a razão?
O fato é que na verdade, questão racial, é tema controverso de traçado perigoso e geralmente nos leva a terríveis equívocos. Afinal vivemos na África? Todos nór éramos negros? Somos um somatório de fatores que definem Quanto aos o tom de nossa mistura. Dos autores citados no comentário, é consenso de que não são unanimidades em suas conclusões. Ao olharmos para o processo de construção do povo brasileiro, não devemos virar as costas para o processo de eugenia tocados por tantos governos, que buscavam um "melhoramento da raça", através do embranquecimento do brasileiro. A grande inserção de estrangeiros vindos da Europa contribuiu significativamente para tal fim.
Acredito que fracassaram. Além do mais, não podemos nunca pensar o Brasil como uma unidade social, ou será que o jovem amigo acredita que não há diferenças culturais neste Brasil? Não somos resultado apenas do povo negro, apesar de sua significativa contribuição. Esta idolatria a uma só contribuição é perigosa. Compreendo bem o necessário resgate do valor do povo negro para a realização do Brasil como grande nação. Não podemos nos esquecer dos outros que iguamelnte tiveram sua importância.