"O Brasil no início do século XIX, ao cabo de três séculos de colonização, era um país de contrastes, de situações extremas: litoral e sertão, riqueza e pobreza, cultura popular sincrética e ortodoxia filosófica e religiosa, licenciosidade de costumes e rigidez de comportamento, valores cristão e escravidão, mandonismo rural e massa servil, economia exportadora e produção de autoconsumo. Faltava de todo - ou havia leves indícios - o equilíbrio de elementos intermediários, que permitissem o desenvolvimento de novas formas sociais: mercado interno, classe média, fontes diversificadas de poder, pluralidade cultural e religiosa. Ao contrário, prevalçecia a contradição de um país dividido em múltiplas dicotomias."
Wehling, Arno. A Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: ed. Nova Fronteira, 1994. (pg.339)
Este quadro político-social instalado no Brasil do início do séc. XIX,( o que significa 1800 - 1830) em muito se asssemelha com o Brasil do início do século XXI (2000 - 2008). Pasmen! Duzentos anos após, e notamos que a essência das dicotomias existentes naquela época, os contrastes socias, ainda estão presentes em nosso cotidiano. Com excessão ao quadro econômico e a pluralidade política, as diferenças sociais ainda encontram-se presentes. A riqueza e a pobreza, o litoral e o sertão, a elite intelectual e a massa servil. Enfim o Brasil não conseguiu êxito no desenvolvimento sócio cultural de seu povo. Pouco conseguimos mudar. Se levarmos em consideração as novas tecnologias e suas influências na formação cultural do povo e de forma comparativa traçar um paralelo com aquela época, podemos até nos atrever a afirmar que nada mudou. O intelectual Luís dos Santos Vilhena, citado na ,mesma obra, chegou a declarar: "O BRASIL É UMA CONGREGAÇÃO DE POBRES."
Como seta certeira, atinge-nos na dignidade as palavras do escritor. Como não concordar com palavras que exprimiam a realidade brasileira da época, se tão atuais!
Estudar a formação de nossa identidade, é antes de tudo identificar a nossa origem, o que éramos e o que passamos a ser. Se não encontrarmos grandes mudanças, é por que está na hora de assumir a nossa responsabilidade e mudar então a nossa realidade. Se o Estado foi incompetente na sua missão, cabe ao povo tomar as rédeas da mudança, exigindo para si esta responsabilidade. Afinal, o poder emana do povo, e por ele será exercido ..., ou não?
2 comentários:
Palavras bonitas jovem Roque, contudo acredito que faltou um componente nesta tua reflexão... a questão racial. É não digo somente na perspectiva histórica de longo prazo, pois, é perceptível (para quem consegue e quer ver) que a nossa elite ao longo do século XX embranqueceu enormemente.
Tudo bem equívocos acontecem. Se pegarmos alguns dos autores clássicos que discutem a formação do povo brasileiro veremos coisa semelhante. Para dar dois exemplos é só ver calmamente o livro "Sobrados e Mucambos", do Gilberto Freire. Na referida obra, mais especificamente no cap.XI, ele comenta sobre a vida de alguns intelectuais da vida pública e política do final do século XIX. Chama-os de mulatos que estava se integrando na sociedade brasileira, até mesmo apelidou eles de "Bacharéis". Contudo a perspectiva dele era a miscigenação como um horizonte inescapável.
Não podemos esquecer de Florestan Fernandes que acreditava piamente na integração do negro na sociedade de classe. Segundo ele os problemas que atingiam a população negra brasileira era um resquício do período (longuíssimo, não é mesmo) escravista. Era só esperar que os negros seriam integrados.
Nossa... os dois como "filhos de seu tempo" estavam certos em diversas coisas e muito equivocados em outras. Quanto à inserção (Florestan) e a miscigenação (Freyre) erraram feio... o que aconteceu foi o branqueamento excessivo e conseqüentemente aumento do racismo no Brasil.
Seria interessante (intelectuamente falando) tentar pensar está questão nas suas próximas reflexões.
Outra coisa obrigada pela postagem no blog e por ter me apelidado de jovem griot. Fiquei me sentindo mais jovem e quis retribuir a gentileza no começo do meu comentário.
Felicidades e vamos continuar conversando e desculpe os erros, pois escrevi correndo.
email para contato: aldeiagriot@yahoo.com.br
Podemos acompanhar as diversas correntes historiográficas e dependendo de nossos interesses defender a que mais nos serve.
O fato então, deve-se ao ponto de vista. A sociedade brasileira embranqueceu a quem interessa embranquecê-la. Outras correntes acreditam no escurecimento da cor da pele. Quem está com a razão?
O fato é que na verdade, questão racial, é tema controverso de traçado perigoso e geralmente nos leva a terríveis equívocos. Afinal vivemos na África? Todos nór éramos negros? Somos um somatório de fatores que definem Quanto aos o tom de nossa mistura. Dos autores citados no comentário, é consenso de que não são unanimidades em suas conclusões. Ao olharmos para o processo de construção do povo brasileiro, não devemos virar as costas para o processo de eugenia tocados por tantos governos, que buscavam um "melhoramento da raça", através do embranquecimento do brasileiro. A grande inserção de estrangeiros vindos da Europa contribuiu significativamente para tal fim.
Acredito que fracassaram. Além do mais, não podemos nunca pensar o Brasil como uma unidade social, ou será que o jovem amigo acredita que não há diferenças culturais neste Brasil? Não somos resultado apenas do povo negro, apesar de sua significativa contribuição. Esta idolatria a uma só contribuição é perigosa. Compreendo bem o necessário resgate do valor do povo negro para a realização do Brasil como grande nação. Não podemos nos esquecer dos outros que iguamelnte tiveram sua importância.
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